Os possíveis casos de dengue no último ano (2023), aumentaram em, aproximadamente, 16%, registrando mais de 1.6 milhões de notificações, de acordo com o Ministério da Saúde. Por isso, a vacina contra a dengue conhecida como Qdenga foi incorporada no Programa Nacional de Imunizações (PNI) pelo Ministério da Saúde, e a previsão é que comece a ser oferecida a partir do mês de fevereiro (2024) de forma gratuita. Com essa iniciativa, o Brasil se torna o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público de saúde.
O que devemos saber sobre a Qdenga?
A vacina Qdenga é fabricada pela da empresa japonesa Takeda Pharma Ltdao, e é a única imunizante contra a dengue que protege pessoas ainda não contaminadas pelo vírus. Por ser uma importante aliada no combate à doença, oferece proteção aos quatro sorotipos do vírus (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4).
Como a vacina funciona?
A Qdenga é feita com vírus vivo atenuado. Ela interage com o sistema imunológico para gerar uma resposta semelhante àquela produzida pela infecção natural, mas sem causar a doença em si ou colocar a pessoa imunizada em risco. Ou seja, permite que se crie imunidade de forma segura e controlada.
Quem pode tomar a vacina?
A vacina tem eficácia de até 80%, porém, é importante ressaltar que para esta eficácia é necessário completar o esquema vacinal de forma correta. Além disso, ela é indicada para pessoas entre 4 e 60 anos de idade.
A limitação de idade, de 60 anos, é uma contraindicação no sentido de efeito adverso, segurança ou por ter uma eficácia menor?
A limitação da idade ocorre por ainda não haver estudos robustos com populações com mais de 60 anos de idade.
Como funciona a aplicação?
A aplicação da vacina é por via subcutânea, sendo duas doses com intervalo de 3 meses (0-3 meses), não havendo necessidade de reforço ao longo da vida.
Ela também pode ser aplicada com as vacinas da Febre Amarela e Hepatite A. As Demais vacinas deve-se aguardar 30 dias de intervalo.
A Qdenga também protege contra zika, febre amarela e chikungunya?
Não há proteção para outras arboviroses. A vacina é exclusiva para a proteção contra a
dengue.
Posso ter efeitos colaterais?
Sim, pode. Os eventos adversos mais comuns são:
- Sensibilidade no local da injeção (dor, vermelhidão e inchaço);
- Fadiga;
- Mialgia e mal-estar;
- Febre;
- Calafrios;
- Perda ou diminuição da força física
- Perda de apetite;
- Irritabilidade;
- Dor de cabeça.
Quais são as contraindicações?
- Pessoas imunodeprimidas (congênita ou adquirida, incluindo aqueles que recebem terapias como quimioterapia ou altas doses de corticosteróides sistêmicos dentro de quatro semanas anteriores à vacinação);
- Pessoas infectadas por HIV (sintomática ou assintomática) com sistema imunológico comprometido;
- Alergia grave (anafilaxia) a algum dos componentes da vacina;
- Gestantes;
- Mulheres em período de amamentação.
Quem já tomou a Dengvaxia pode tomar a Qdenga?
A Dengvaxia é uma vacina contra a dengue desenvolvida pela farmacêutica Sanofi que foi aprovada em 2015 por várias agências regulatórias globais, incluindo a Anvisa.
Os dados eram suficientemente bons para a aprovação. Porém, com o passar do tempo, e a aplicação da vacina em larga escala, com grupos muito maiores do que o que foi usado no estudo, descobriu-se que esse imunizante poderia aumentar o risco de dengue grave em indivíduos sem histórico prévio de exposição ao patógeno antes da vacinação.
Consequentemente, as doses passaram a ser recomendadas apenas para aqueles com histórico da doença, visando proporcionar proteção contra a infecção, que causa quadros mais graves.
Antes da administração das doses, era necessário realizar um exame de sangue para verificar a presença de anticorpos contra qualquer sorotipo da dengue.
Na prática, as restrições acabaram eliminando a vacina como uma candidata para implementação na rede pública de saúde.
A Qdenga se diferencia da Dengvaxia, principalmente por ser recomendada apenas a quem já foi infectado pelo vírus. Sendo assim, pessoas que já tiveram dengue e tomaram a Dengvaxia podem tomar a Qdenga, idealmente seis meses após a última dose.
Tomei duas doses da vacina Dengvaxia, mas não completei o esquema. Como devo proceder?
Brasil registra o maior número de mortes por dengue em um único ano
As ocorrências saltaram de 1,3 milhão em 2022 para 1,6 milhão.
No mesmo ano, o Brasil registrou o maior número de mortes por dengue em um único ano, conforme revelado pelo painel de monitoramento das arboviroses do Ministério da Saúde.
Até o dia 27 de dezembro, foram confirmados 1.079 óbitos, e outros 211 estão em processo de investigação, aguardando resultados.
“As alterações climáticas em curso impactam tanto as temperaturas quanto a quantidade de chuvas, e no Brasil, ambos os fatores aumentaram. Isso favorece a proliferação do mosquito Aedes aegypti e eleva a probabilidade de transmissão da dengue. Precisamos estar muito atentos à situação epidemiológica em 2024, há uma grande risco de aumento nos casos”, diz Cláudia Codeço, pesquisadora da Fiocruz e coordenadora do InfoDengue.
A vacina Qdenga é realmente segura?
A vacina contém vírus vivos atenuados da dengue, que foram enfraquecidos de forma controlada. Essa técnica permite desencadear uma resposta imunológica eficaz sem causar a doença completa, possibilitando uma reação mais rápida do corpo em casos de exposição real à doença.
A dengue possui quatro sorotipos, e quando alguém é infectado por um deles, adquire imunidade contra aquele tipo específico, mas ainda fica suscetível aos demais.
Embora a empresa responsável pela vacina tenha divulgado uma eficácia global de 80%, esse percentual engloba os resultados de todos os sorotipos. Ao analisá-los individualmente, a eficácia do imunizante variou para cada sorotipo.
Passados 18 meses após a segunda dose, para o tipo 1, a taxa foi de 69,8%. Para a dengue 2, o melhor resultado, de 95,1%, e para o subtipo 3, o menos satisfatório, de 48,9%.
Em relação ao subtipo 4, a Takeda afirmou à BBC News Brasil que a quantidade de casos testados não foi suficientemente alta para chegar a uma conclusão.
Felipe Naveca, pesquisador em saúde pública da Fiocruz, destaca que a eficácia reduzida contra o subtipo 3 e a ausência de dados para o subtipo 4 são desafios do imunizante administrado em um número elevado de pessoas.
Como pano de fundo, está a ressurgência de ambas as variantes da dengue no Brasil, após um período prolongado sem novos casos no país — 15 anos sem casos de dengue 3 e 5 anos sem casos de dengue 4.
Na dengue, a gravidade da doença está associada à infecção secundária, ou seja, uma pessoa que teve dengue pela primeira vez, seja por qualquer sorotipo, corre um risco maior de desenvolver uma forma mais severa ao ser infectada novamente.
Assim, para quem for se vacinar, é importante considerar a proteção menor quando a infecção secundária for por dengue 3 ou 4.
Apesar disso, o pesquisador reforça que a boa eficácia da nova vacina contra a dengue 1 e 2, e a possibilidade de ela reduzir os riscos de uma segunda infecção pela doença são pontos positivos, especialmente para populações que vivem em áreas endêmicas.
Precisa de prescrição médica?
Não é preciso apresentar a prescrição médica para o agendamento da vacina contra dengue em atendimentos particulares.
Como saber se eu estou com dengue?
É importante se atentar aos sinais característicos da doença. Os sintomas da dengue incluem:
- Febre alta (acima de 38 graus);
- Dor de cabeça;
- Dor atrás dos olhos;
- Dores intensas no corpo e nas articulações;
- Mal-estar;
- Falta de apetite;
- Manchas vermelhas pelo corpo.
Um ponto importante é que a febre alta geralmente é o primeiro sinal de dengue, e tem início abrupto, durando de dois a sete dias. Se não houver febre, dificilmente será dengue.
Também é importante se atentar aos sinais de alarme, como dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, letargia e/ou irritabilidade, que podem indicar um quadro grave da doença.
Quando devo procurar ajuda?
Se você suspeita que está com dengue, o ideal é procurar um serviço de saúde para que um profissional possa fazer o diagnóstico corretamente, inclusive identificar ou descartar um possível quadro de dengue hemorrágica e avaliar a gravidade, além de fornecer as orientações adequadas para o tratamento e alívio dos sintomas.
O diagnóstico da doença é feito após avaliação clínica e exames laboratoriais, como pesquisa de vírus ou de anticorpos. Lembrando que, não existe um tratamento específico para dengue.
Em casos leves, a recomendação é repousar, se hidratar bem, usar medicações para dor e febre e retornar ao serviço de saúde em casos de sinais de alerta. Na maioria dos casos, a doença se cura espontaneamente após 10 dias. Em quadros mais graves, é necessário internação hospitalar.
Como vai funcionar o calendário de vacinação?
A vacinação com a Qdenga está prevista para começar em fevereiro, mas não será em larga escala. Segundo o Ministério da Saúde, o SUS oferecerá 6,2 milhões de doses ao longo de 2024.
Como o imunizante é aplicado em um esquema de duas doses, com intervalo de três meses entre as aplicações, cerca 3,1 milhões de pessoas poderão ser imunizadas no próximo ano.
Essas doses serão destinadas a “público e regiões prioritárias”, segundo a pasta, mas não deu outros detalhes.
As aplicações serão distribuídas ao longo do ano, de acordo com o calendário de entrega das doses pela fabricante, que deve ser a seguinte: 460 mil doses em fevereiro, 470 mil em março, 1.650 milhão em maio e agosto, 431 mil em setembro, e 421 mil em novembro.