O Lúpus é uma doença autoimune que faz com que as células de defesa ataquem as células saudáveis do corpo, o que pode provocar inflamação em várias partes do corpo, especialmente articulações, pele, olhos, rins, cérebro, coração e pulmões.
Geralmente, o Lúpus, também conhecido como Lúpus Eritematoso, é mais comum em mulheres jovens, entre os 14 e os 45 anos, e seus sintomas aparecem desde o nascimento. Porém, é comum que a doença só seja identificada vários anos depois dos primeiros sintomas, devido a uma crise de sintomas mais intensos após uma infecção, uso de algum medicamento ou, até, devido à exposição exagerada ao sol.
Para relembrar: o que são doenças autoimunes?
Uma doença autoimune é uma condição que ocorre quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis do corpo por engano. Dentre as mais de 80 doenças autoimunes conhecidas, o lúpus é uma das mais importantes.
As causas das doenças autoimunes ainda não são conhecidas. A teoria mais aceita é que fatores externos estejam envolvidos na ocorrência dessa condição, principalmente quando há predisposição genética e o uso de alguns medicamentos.
Quais são os diferentes tipos de Lúpus?
Existem quatro tipos de Lúpus mais comuns. São eles:
Lúpus Cutâneo (Discóide)
Doença restrita à pele, que apresenta lesões arredondadas, vermelhas e descamativas, sendo notadas principalmente no rosto, couro cabeludo, região cervical e tronco. Estas lesões podem se tornar mais evidentes quando a pessoa se expõe ao sol.
Lúpus Sistêmico
Doença sistêmica que acomete, além da pele, diversos órgãos (articulações, rins, pulmões, sistema nervoso e pleura).
Lúpus induzido por drogas
Ocorre quando há desenvolvimento de sintomas semelhantes ao do lúpus eritematoso sistêmico, temporalmente relacionado à exposição a drogas. Geralmente, a resolução do quadro se dá após a suspensão do medicamento desencadeante. A associação mais clássica é feita com a procainamida e a hidralazina.
Lúpus Neonatal
É uma doença autoimune adquirida que acomete recém-nascidos causada pela passagem de anticorpos ( Anti-Ro e Anti-La) da mãe para a criança através da placenta, durante a gravidez. Muitas mães sabidamente têm doenças que apresentam esses anticorpos no sangue, como lúpus eritematoso sistêmico, síndrome de Sjögren e doença mista do tecido conjuntivo. O feto ou recém-nascido pode evoluir com o surgimento de lesões cutâneas fotossensíveis, alterações hepáticas, hematológicas ou, até mesmo, cardíacas.
Quais são as causas?
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia, as causas do Lúpus não são conhecidas, mas sabe-se que fatores genéticos, hormonais e ambientais contribuem para seu desenvolvimento.
No Lúpus, um desequilíbrio na produção de anticorpos faz com que eles ataquem proteínas do próprio organismo, causando inflamação em diversos órgãos, como pele, mucosas, pulmões, articulações e rins.
Outro fator é que, mulheres em idade fértil são até 9 vezes mais acometidas que os homens, uma vez que o estrogênio exerce papel importante na patogênese da doença.
Algumas pessoas nascem com susceptibilidade genética para desenvolver a doença e, somada à interação de fatores ambientais (irradiação solar, tabagismo, infecções por alguns vírus ou outros micro-organismos), passam a apresentar alterações imunológicas.
Essa interação genética + ação de fatores ambientais podem levar a um desequilíbrio na produção de anticorpos que reagem contra proteínas do próprio organismo, causando inflamação em diversos órgãos, como pele, rins, articulações, pulmões e mucosas.
Quando os sintomas começam a aparecer?
Os sintomas do Lúpus podem surgir de repente ou se desenvolver lentamente. Eles também podem ser moderados ou graves, temporários ou permanentes. A maioria dos pacientes com lúpus apresenta sintomas moderados, que surgem esporadicamente, em crises, nas quais os sintomas se agravam por um tempo e depois desaparecem.
Eles podem também variar de acordo com as partes do seu corpo que forem afetadas pela doença. Os sinais mais comuns são:
- Febre;
- Mal estar generalizado;
- Perda de peso;
- Manchas vermelhas na pele, especialmente no rosto e em outros locais expostos ao sol;
- Queda de cabelo;
- Sensibilidade à luz;
- Visão embaçada;
- Úlceras na boca ou na garganta;
- Dor ou inflamação nas articulações;
- Convulsões;
- Dor abdominal;
- Alterações mentais, como depressão ou psicose;
- Alterações renais, como glomerulonefrite.
Lembrando que, estes sintomas normalmente surgem nas crises, ou seja, aparecem de forma intensa durante alguns dias ou semanas e depois voltam a desaparecer, porém, também existem casos em que os sintomas se mantêm sempre de forma constante.
O Lúpus é uma doença contagiosa?
Ao contrário de boatos, o Lúpus não é uma doença contagiosa, ou seja, não se pega, não se transmite. Geralmente ele é desenvolvido por conta do sistema imunológico, que produz anticorpos que atacam o próprio corpo.
Tem cura?
Não. O Lupus não tem cura, mas tem controle. Para isso é fundamental que o tratamento seja realizado de forma correta, com acompanhamento regular com o reumatologista, uso das medicações prescritas, adoção de hábitos saudáveis, fotoproteção e evitar exposição solar.
Então, qual o melhor tratamento para o Lúpus?
O tratamento do LES deve ser guiado de acordo com o grau de severidade e quais órgãos acometidos pela doença. O uso de corticoides (via oral ou em pulsoterapia endovenosa), hidroxicloroquina e imunossupressores podem contribuir na busca pelo controle e remissão do quadro.
Existe possibilidade de prevenção?
Para evitar novos surtos de atividade da doença, o paciente com LES deve fazer uso correto das medicações prescritas, evitar exposição solar (principalmente entre 10h – 15h) e cessar tabagismo. Ir regularmente em consultas médicas e realizar exames de controle, fazer uso de bloqueador solar e adotar hábitos de vida saudáveis também são medidas a serem adquiridas.
Quais são os fatores de risco?
O Lúpus eritematoso sistêmico pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, raça e sexo, porém as mulheres são muito mais acometidas. Veja o que pode facilitar a incidência de Lúpus:
- Gênero: a doença é mais comum em mulheres do que em homens.
- Idade: a maior parte dos diagnósticos acontece entre os 15 e os 40 anos, apesar de poder surgir em todas as idades. A média de idade é em torno de 31 anos.
- Etnia: lúpus é mais comum em pessoas afro-americanas, hispânicas e asiáticas. É três a quatro vezes maior em mulheres negras do que brancas.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico deve ser realizado por um médico através da anamnese da história clínica do paciente (com presença de sinais e sintomas sugestivos), exame físico e exames laboratoriais.
A presença do FAN (fator ou anticorpo antinuclear), embora não seja exclusiva da doença, quando positiva em títulos elevados, em uma pessoa com sinais e sintomas característicos, permite o diagnóstico. Outros testes laboratoriais que confirmam a suspeita diagnóstica é a presença de anticorpos anti-Sm e anti-DNA, que são específicos para a doença, assim como o consumo de frações do complemento (C3 e C4).
Quais cuidados devo ter durante o tratamento?
Alguns cuidados podem ser recomendados pelo reumatologista durante o tratamento do Lúpus, para ajudar a aliviar os sintomas, como:
- Dormir a quantidade de horas recomendada de acordo com a idade;
- Evitar exposição ao sol;
- Usar protetor solar e roupas de proteção (chapéu, manga comprida e roupas com fator de proteção solar FPS 40.)
Além disso, também é importante fazer uma alimentação anti-inflamatória para prevenir o aparecimento dos sintomas e, até mesmo, diminuir a sua intensidade, e evitar o consumo de alimentos ricos em açúcar, como refrigerantes, bolos, e sorvetes, por exemplo.
Por que em alguns casos o paciente não apresenta danos severos à saúde e outros sim?
Provavelmente, a manifestação clínica que o paciente com Lúpus apresenta é o resultado da combinação de fatores genéticos, ambientais e hormonais. Aqueles que têm apenas acometimento da pele e das articulações costumam ter um bom prognóstico, necessitando de baixas doses de imunossupressores. Já os pacientes com acometimento renal ou cerebral, por exemplo, podem precisar de mais cuidados.
O Lúpus é uma doença hereditária?
Não, o Lúpus não é uma doença hereditária. No entanto, há famílias com uma predisposição genética para ter Lúpus ou outras doenças autoimunes semelhantes. É por isso que a doença pode se apresentar em mais de um membro de uma mesma família, inclusive filhos, embora isso seja muito raro. Também pode acontecer que uma família tenha predisposição genética, e que vários dos seus membros tenham diferentes doenças autoimunes como lúpus, artrite reumatoide, tireoidite.
Posso engravidar mesmo sendo diagnosticada com Lúpus?
Nas décadas passadas, a gravidez estava proibida para as pacientes com Lúpus, mas na atualidade é possível ter uma gravidez sem complicações para a mãe para o bebê. Isto é possível com uma gravidez planejada, quando o Lúpus está adormecido, e com a supervisão de um obstetra e um reumatologista com experiência em lúpus.
O Lúpus tem alguma relação com o vírus da AIDS?
Não existe relação entre o Lúpus e a AIDS. Devido ao fato do lúpus ser uma doença autoimune, algumas pessoas acreditam que o lúpus pode ser causado pelo vírus do HIV (vírus da imunodeficiência humana) ou estar relacionado com a AIDS. Essas crenças são falsas.
“Descobri que precisava fazer um transplante de rim devido a meu lúpus e estava em recuperação. Isso é algo que precisava fazer por minha saúde.” Selena Gomez
Em 2015, a cantora Selena Gomez anunciou ter lúpus eritematoso sistêmico (LES) e afirmou que pressionava seu corpo e sua mente a agirem como se nada tivesse acontecido, pois se recusava a aceitar a gravidade do seu problema. Hoje, ela afirma que se arrepende de ter deixado a culpa que sentia sobre sua fama impactar em sua saúde.
“Eu podia ter febre, dores de cabeça. Eu podia estar exausta. Mas eu sempre continuava e meio que ignorava (a doença), para ser honesta, porque não era algo que realmente queria aceitar.”
Ela continuou: “Eu não acho que tomei as decisões corretas. Eu fui extremamente egoísta. Não tenho orgulho disso.” disse a cantora em uma entrevista ao programa “Today”.
No mesmo ano em que divulgou a doença, Selena foi submetida a uma cirurgia de transplante de rim para tratar o Lúpus. “Quando fiz meu transplante de rim, lembro de ter sido muito difícil no início mostrar a minha cicatriz. Eu não queria que ela aparecesse nas fotos, então eu usava coisas que pudessem cobri-la. Agora, mais do que nunca, eu me sinto confiante em quem sou e do que passei… e estou orgulhosa disso”, escreveu Selena.
Na foto a seguir, a cantora mostra a cicatriz ao posar com um maiô azul na beira da piscina.
Tratamento
Existe tratamento mas não há cura definitiva para o lúpus, assim como outras doenças como diabetes e pressão alta. O principal objetivo do tratamento é controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida. A doença branda pode ser tratada com:
- Anti-inflamatórios não esteroides para artrite e pleurisia;
- Protetor solar para as lesões de pele;
- Corticoide tópico para pequenas lesões cutâneas;
- Uma droga antimalárica (hidroxicloroquina) e corticoides de baixa dosagem para os sintomas de pele e artrite.
Sintomas graves ou que acarretem risco de morte necessitam de um tratamento mais agressivo com especialistas, incluindo:
- Alta dosagem de corticoides ou medicamentos para diminuir a resposta do sistema imunológico do corpo (imunossupressores);
- Drogas citotóxicas (drogas que bloqueiam o crescimento celular) quando não houver melhora com corticoides ou quando os sintomas piorarem depois de interromper o uso. Esses medicamentos têm efeitos colaterais graves, por isso o médico deverá monitorar o uso com muita frequência.
Se você foi diagnosticado com Lúpus…
É importante ter cuidados com a saúde, especialmente com a saúde do coração, a fim de prevenir problemas cardíacos mais graves no futuro. Além disso, é igualmente importante fazer uma análise frequente da imunização e testes para verificar também a saúde dos ossos (presença ou não de osteoporose) e outras doenças.
Os exames complementares para diagnosticar o lúpus incluem:
- Exame físico;
- Exames de anticorpos, incluindo teste de anticorpos antinucleares;
- Hemograma completo;
- Radiografia do tórax;
- Biópsia renal;
- Exame de urina.