A Síndrome de Tourette é um transtorno caracterizado por tiques motores ou vocais variados. Eles variam de uma semana para a outra, ou se modificam ao longo dos meses. Sendo assim, é quase impossível prever quais tiques aparecerão em seguida.
As pessoas com Tourette relatam ser praticamente impossível resistir à vontade de falar ou expressar esses tiques, mesmo que sejam inapropriados. O estresse de se manter em silêncio ou imóvel tende a piorar a condição e manifestar tiques mais intensos. Por conta disso, pessoas com Tourette têm dificuldade para controlar seus impulsos.
O transtorno comumente aparece na infância, entre os quatro a seis anos, de acordo com o MDS V. Ele alcança o seu pico de gravidade por volta dos 10 a 12 anos e diminui na adolescência. Os tiques apenas persistem até a idade adulta em 1% das pessoas.
Em 80% dos casos, os tiques motores são a manifestação inicial da síndrome. Eles incluem piscar, franzir a testa, contrair os músculos da face, balançar a cabeça, contrair em trancos os músculos abdominais ou outros grupos musculares, além de movimentos mais complexos que parecem propositais, como tocar ou bater em objetos próximos.
São típicos dos tiques vocais os ruídos não articulados, tais como tossir, fungar ou limpar a garganta. Com o passar do tempo e o desenvolvimento cognitivo, os tiques podem evoluir para a emissão parcial ou completa de palavras.
Embora sejam menos frequentes, os sintomas que tornaram a síndrome mais conhecida são os que envolvem o uso involuntário de palavras (coprolalia) e gestos (copropraxia) obscenos, a formulação de insultos, a repetição de um som, palavra ou frase dita por outra pessoa (ecolalia). Esses sintomas provocam alto nível de estresse aos pacientes, e o sofrimento e frustração que eles experimentam é visível.
Alguns pessoas conseguem suprimir a eclosão do tique por alguns períodos, ao custo de muito esforço. Você pode ter uma ideia ao tentar não piscar por vários segundos, por exemplo, e perceber o alívio que sente quando finalmente pisca. Por seus efeitos, que podem causar desconforto em meios sociais, a síndrome também pode provocar sentimentos de fobia social e irritabilidade.
Qual é a causa da síndrome de Tourette?
As causas da síndrome de Tourette não são totalmente conhecidas. Estudos científicos sugerem a existência de uma componente genética e de anomalias em neurotransmissores cerebrais, designadamente na dopamina. Os tiques pioram com situações de stress e cansaço.
A síndrome é uma doença genética, mais frequente em pessoas da mesma família e ainda não se sabe exatamente qual a sua causa específica.
Sinais e sintomas da síndrome
Os tiques motores (envolvendo movimento) ou vocais (envolvendo som) da síndrome de Tourette são classificados como simples ou complexos. Eles podem variar de muito leves a graves, embora a maioria dos casos seja leve.
Tiques simples: movimentos súbitos, breves e repetitivos que envolvem um número limitado de grupos musculares. Eles são mais comuns do que tiques complexos.
Tiques complexos: padrões distintos e coordenados de movimento envolvendo vários grupos musculares.
Exemplos de tiques motores vistos na síndrome de Tourette:
- Tiques motores simples como incluem movimentos oculares como piscamento dos olhos, encolher os ombros e sacudir a cabeça ou os ombros.
- Tiques motores complexos podem incluir movimentos que se assemelham a caretas, combinados ou não com torção do pescoço e encolher de ombros. Outros tiques motores complexos podem parecer propositais, como cheirar ou tocar objetos, pular, dobrar ou torcer objetos.
Exemplos de tiques vocais (fônicos) na síndrome de Tourette:
- Tiques vocais simples incluem pigarros repetitivos, cheirar, latir ou grunhir.
- Tiques vocais complexos podem incluir repetir as próprias palavras ou frases. Repetir palavras ou frases de outras pessoas ou, mais raramente, usar palavrões vulgares e obscenos.
Os tiques geralmente são piores com excitação ou ansiedade e melhor durante atividades calmas e focadas. Certas experiências físicas podem desencadear ou piorar os tiques. Por exemplo: colares apertados podem desencadear tiques no pescoço, ouvir outra pessoa cheirar ou limpar a garganta pode desencadear sons semelhantes.
Os tiques não desaparecem durante o sono leve, mas geralmente diminuem significativamente, porém desaparecem completamente em sono profundo.
Como é a mente da pessoa com Tourette?
Um desejo enorme de manifestar um tique é sentido antes de sua ocorrência, semelhante à compulsão vivenciada por pessoas com TOC. O indivíduo, então, fica tenso e ansioso. Muitos descrevem a compulsão como uma vontade irresistível de espirar, tossir ou coçar uma parte do corpo. Quando cede à necessidade de fazer o tique, sente uma sensação breve de alívio.
Em épocas de estresse emocional, os tiques se manifestam mais frequentemente. A pessoa com Tourette raramente consegue controlá-los.
Quando alguém chama atenção para eles, a pessoa fica ansiosa por ser o centro das atenções e esse nervosismo piora os sintomas do transtorno. Portanto, é recomendado não reagir aos tiques, tratando-os como se não estivessem acontecendo.
Resumidamente, é como se determinadas células cerebrais da pessoa — chamadas neurônios motores — ficassem “confusas” sobre a coordenação desses movimentos. Contudo, a pessoa não consegue evitar tais gestos ou palavras porque esse controle deveria ser realizado, de forma automática, pelo próprio cérebro.
Qual a diferença entre síndrome de Tourette é TOC?
O TOC funciona como um gatilho, facilitando o início dos sintomas. A Síndrome de Tourette se manifesta por meio de movimentos e sons repetitivos e involuntários. Essas compulsões são parecidas com as manifestadas por pacientes com TOC e devem ser distinguidos por alguém especializado.
Segundo Ana Hounie, psiquiatra e colaboradora do PROTOC do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC FMUSP), estima-se que o TOC afeta 2% da população. Já a síndrome de Tourette, 1%.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico da síndrome de Tourette é essencialmente clínico, feito por um neuropediatra ou psiquiatra especializado, e deve obedecer aos seguintes critérios:
- Tiques motores múltiplos e um ou mais tiques vocais devem manifestar-se durante algum tempo, mas não necessariamente ao mesmo tempo;
- Os tiques devem ocorrer em salvas (diversas vezes por dia), quase todos os dias ou intermitentemente por um período de pelo menos três meses consecutivos;
- O quadro deve começar antes dos 18 anos de idade.
Existe tratamento?
Felizmente, a síndrome é totalmente tratável. O seu tratamento é composto por terapia (para adultos e crianças) e medicamentos, podendo ser interdisciplinar ou requerer somente um deles.
Se o quadro clínico da pessoa não for grave, um número limitado de consultas com o psicólogo pode ser o suficiente para tranquilizá-la e modificar como trata o tique. Quanto menos prestar atenção nele, mais fácil será para controlá-lo.
A Terapia Cognitivo-Comportamental e os medicamentos psiquiátricos são as formas de tratamento mais eficazes em casos graves.
O grau de gravidade do transtorno é medido conforme a vida da pessoa é afetada pelos sintomas. Por exemplo, se ele levá-la ao isolamento social ou à depressão o quadro é considerado grave.
Como ajudar alguém com Síndrome de Tourette?
Para não constranger a pessoa com Tourette e evitar o agravamento dos tiques, existem algumas atitudes que devem fazer parte do dia a dia:
- evitar comentários maldosos;
- não demonstrar irritação em relação aos tiques ou chamar atenção para eles;
- não forçá-la a enfrentar gatilhos para a Tourette;
- pessoas com Tourette não devem ser repreendidas.
Em vez disso, devem demonstrar apoio, compreensão e amor. As crianças devem ser levadas ao médico e ao psicólogo e os adultos, incentivados a buscar tratamento para erradicar o sofrimento no dia a dia.
Por que quem tem Tourette fala palavrão?
Nosso cérebro tem uma estrutura conhecida como “gânglios de base”, que os pesquisadores acreditam ser mais antiga em termos evolutivos. Esses gânglios estão ligados à emoção (a coisa é um pouco mais complicada do que isso!), mas também ao controle de alguns movimentos. Problemas nesses gânglios, portanto, podem causar vários tipos de espasmos musculares.
Como os gânglios da base estão ligados também ao controle de movimentos (o mal de Parkinson, por exemplo, também é causado por uma degeneração nesse setor), o mais comum é que portadores desta síndrome apresentem movimentos involuntários, tossidas, fungadas, piscadas, movimentação facial descontrolada (fazendo “caretas”) e até mesmo a repetição de palavras ou sílabas. Apenas uma minoria manifesta o tique falando palavrões (ou fazendo gestos obscenos).
Uma pessoa com a Síndrome de Tourette tem dificuldade em controlar um estímulo intenso (como uma coceira, por exemplo), porque há um conflito entre o controle e a força desse impulso indesejado. É como se fosse um conflito entre o “acelerador” e o “freio” que controlam os movimentos musculares. Esse é um sintoma muito parecido com o que deflagra o TOC (transtorno obsessivo compulsivo), que aparece junto em 50% dos casos, e a pessoa não faz de propósito.
Uma vez que o transtorno está ligado a uma área cerebral que é comum a todos os seres humanos, ele não é suscetível à diferença linguística. Isso significa que portadores dessa síndrome vão usar os palavrões que são mais comuns nas suas culturas.
Recomendações em caso de suspeita de síndrome de Tourette
- Não adie a consulta ao médico se notar que seu filho apresenta alguma forma de movimentos involuntários. Especialmente nas fases iniciais da vida, os portadores precisam de tratamento, e não de repreensão;
- O tratamento precoce é fundamental para obter melhores resultados e permitir uma vida escolar normal;
- Conscientizar pais e pessoas que convivem com a criança sobre o fato de que os tiques são involuntários é um grande passo para melhorar o cotidiano do paciente.
Como saber se meu filho tem síndrome de Tourette?
- Realização de movimentos mais complexos do que os considerados habituais;
- Balançar de cabeça;
- Contrair dos músculos da face;
- Contrair, em trancos, dos músculos abdominais ou outros;
- Franzir da testa;
- Piscar.